sábado, 28 de novembro de 2015

A barba é uma obra de arte

Atores. Cantores. Celebridades. Parece que de uma hora para outra a barba virou obrigatória no mundo masculino. Tem quem goste e quem não goste, quem deseja e não tem, quem tem e não quer. As barbearias ressurgiram cada vez mais chiques e segmentadas, aliadas a cervejarias artesanais e produtos cosméticos, especialmente os importados. Na virada do ano, surgiu a primeira empresa totalmente brasileira especializada em produtos para barba e bigode, a SobreBarba. Muitas comunidades e diversos blogs também segmentados surgiram nos últimos meses para atender a uma demanda de marmanjos afoitos por aprender a cuidar da higiene e da estética da barba.


Mas, será algo passageiro? Qual a simbologia sob os pelos crescidos na face?

Especialmente a partir de dois mil e doze as barbas tomaram conta do planeta e embora alguns fashionistas digam que era moda e que já passou, estão mais vivas do que nunca, diversificadas e (re) fazendo história.

Livros, sites, blogs, empresas de produtos especializados, comunidades, bares, músicas e uma série de produtos e serviços estão se rendendo aos barbudos. A barba e o bigode, além de cíclicos, pesam historicamente na identidade masculina e não são apenas moda não. Talvez seja, hoje em dia, um resgate da beleza natural do homem.

Mas o que fica evidente é que a barba esteve mais associada à burguesia ao longo dos séculos, já que os homens nobres tinham mais tempo para se dedicar a cuidar dos pelos, e aos artistas, eternos rebeldes e contestadores dos padrões. Antagonicamente, a cara lisa aparecia como essencial ao homem trabalhador e ao soldado, se mostrando como ideal para aqueles que necessitavam de funcionalidade. Ora, não precisa muito para estabelecer uma conexão com a atualidade. Pense um pouco, os homens que você conhece que cultivam a barba são trabalhadores braçais, pedreiros ou mineiros, por exemplo, ou aqueles cujas atividades se concentram no meio intelectual ou artístico? Mas, é preciso que se diga, há muitas empresas que ainda não permitem que seus “colaboradores” usem barba. O meio do trabalho não evoluiu o suficiente para se desprender da ideia de guerra.

Já na Grécia, quando Alexandre, o Grande, se tornou rei, proibiu o uso da barba entre os soldados de seu exército com a justificativa de que poderia atrapalhar o desenvolvimento dos mesmos durante um confronto direto com os inimigos.

Mesmo assim, a barba simbolizava poder, status social, nobreza, virilidade. No Brasil do século XIX era impensável um homem nobre que não ostentasse farta cabeleira, barba e bigode. Mas, a partir de 1903 a barba passou a ser associada à presença de micróbios e piolhos. Os estopins parecem ser um artigo publicado no Chicago Chronicle, no qual se estabelecia essa relação e apregoava que o rosto barbeado garantia mais higiene aos homens, e o lançamento do aparelho com lâminas descartável, desenvolvido por King Camp Gillette e William Nickerson. Era uma evolução da navalha, lançada em 1770 por Jean-Jacques Perret, e do aparelho de barbear em formato de T, lançado em 1880 pelos irmãos Kampfe.

A década de mil novecentos e vinte ficou marcada pelo uso do bigode, até que chegaram as loções de barbear e, derradeiramente, a campanha hollywoodiana pelo rosto liso. Nas décadas de 1950 e 1960 todos os galãs do cinema norte-americano tinham carinha de bebê. Foi a ascensão dos cremes e barbeadores, até que o senhor Freddy Mercury esfregou seu bigodão na cara da sociedade. De todo modo, ligados aos homossexuais, o bigode e o cavanhaque enfrentaram séria resistência, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento da indústria dos cosméticos para homens despontou e evoluiu, especialmente no final dos anos noventa e início deste século.

Hoje, essa mesma indústria já investiu cifras absurdas para recuperar os clientes perdidos com o novo ciclo de barbudos, menos preocupados com aceitação e mais interessados em assumir a sua identidade. Obviamente que a mesma indústria que servira para disseminar o rosto liso como sinônimo de civilidade e higiene, o cinema estadunidense, aderiu correndo aos rostos masculinos com barba fechada!

Homens e mulheres têm adorado ou detestado a barba ao longo do tempo. Atualmente, aqueles que não possuem barba farta têm aderido até à cirurgia plástica. A indústria e os serviços estão, afinal, se rendendo aos segmentos tidos como minorias e vendo nesses grupos um nicho rentável. O faturamento do mercado de cosméticos para homens, segundo dados do IBGE, triplicou de 2002 até 2014, o que tem levado grandes empresas como a Gillette, por exemplo, a buscar alternativas para reaver o espaço perdido por seus barbeadores descartáveis, além de investir na criação de novos produtos.

Ainda assim, a barba tem florescido nesse espaço de multiplicidade do cenário global, alheia às regras sociais e plena de significados de liberdade, identidade e expressão. A barba é uma obra de arte. A estética é adotada sem se preocupar com um segmento ou uma regra social, mas, em sua maioria, adequada e possível a cada rosto e objetivo. Como diz o título de uma comunidade para barbudos e “barbudetes”: Faça amor, não faça a barba!

Stacy Thiot

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