quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Caminhada digital

#croniquei

Na caminhada (quase) diária, vez ou outra é preciso fazer uma parada para recuperar as forças tomando um café ou comendo um doce, quando não os dois juntos!

Numa dessas, entramos no café e à uma mesa estavam dois rapazes: um vendia ao outro aquela conversa para a qual eu percebi que já perdi a paciência — presença na internet, Facebook, domínio, site, interação com o público e blé, blé, blé!


Na ânsia de ganhar dinheiro, que antigamente significava ter um emprego e agora representa estar na internet e arrecadar anunciantes, cada vez mais pessoas desferem botes e dentadas para todos os lados, cada qual mais desesperado em converter cliques em dinheiro. Dinheiro que, aliás, não existe mais, é também virtual, número na tela ou cartão magnético.

Enquanto os dois conversavam, eu me dava conta de que nós, artistas, na maioria dos casos também entramos nesse jogo. Trocamos produção séria por artiguinhos que se convertam em cliques, acessos ao blog, visualização de anúncios e saldo no PayPal.

Aos tecnológicos, se acalmem. Todos sabemos que não há como voltar atrás ou reduzir a velocidade. A liquidez deste tempo está fluindo para um novo mundo que se destrói e se reconstrói a cada fração de dia. Mas será que só há esse caminho invisível e apinhado de bytes e telas piscando?

Graças, a conversa logo se encerrou. O maioral de camiseta, jeans e barba convenceu o outro de que ele não teria escapatória: precisava de um site, uma fanpage e no mínimo três artigos por semana para que sua empreitada pudesse nascer e respirar neste mundo maravilhoso!

Eu não perdi a caminhada, nem o café. Degustei uma excelente fatia de torta de brigadeiro e descobri mais um nome exótico para uma xícara de café caro: Mocaccino Flutuante. Não, ele não veio flutuando e se deslocando no ar, como eu imaginei. Chegou coberto por uma camada de sorvete de creme e mais um colchão de chantilly, e ninguém mais se lembrou de presença digital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário