terça-feira, 12 de março de 2013

Sair melhores ou ficar piores



Para Adrian Homrich

É muito duro para qualquer artista enfrentar aquele trabalho formal que exige registro de ponto, horários fixos, encenações, formalidades e burocracias em geral. Mas muitas vezes a vida pede e, então, o que salva são as pessoas!
Cada interação gera um fruto cujo sabor é uma escolha individual. Eu tento sempre escolher o aprendizado e os pontos que me tornam melhor, mas há, sem dúvida, embora raros, os casos em que a escolha é dispensável enquanto o encontro se torna amizade, indiscutivelmente, sem opção, sem julgamento pelos defeitos e qualidades de ambos. O amor é mais forte.
E na nossa paranoia de não parar só percebemos o que significa o encontro no trabalho quando deixamos as pessoas ou elas nos deixam. Pelo prazer ou pela dor de conviver o encontro nos amplia, nos interroga, exige um olhar e uma ação, mesmo que agir, aqui, seja um verbo em silêncio. É impossível deixar o olhar do outro sendo o mesmo, e mais ainda se o outro lhe puser à prova todos os dias, tirando de você o que você é de verdade. Pode parecer que isso só ocorra, ou devesse ocorrer, em um relacionamento no qual as pessoas se abrem totalmente, e talvez soe estranho quando tratado no mundo do trabalho. Mas não é! Saiba que encontros ocorrem diversas vezes por dia, o que passa é que em muitas dessas oportunidades nossos sentidos estão bloqueados ou focados em um só ponto, muitas vezes em resolver um problema, e nisso perdemos a oportunidade e saímos iguais, como se a troca não tivesse existido, como se interagir fosse simples como ligar uma máquina.
E nesse ir e vir de repetições e Sóis que nascem e morrem, são as pessoas que tornam o trabalho formal do artista, considerando, talvez, o próprio trabalho artístico (?), menos doloroso e mais desafiador, enfim, uma experiência. Sinta-se despido na frente de artistas. Eles estão, ou deveriam estar, todo o tempo bebendo da sua personalidade, do seu tom de voz, dos gestos, das palavras, do seu jeito de estar no mundo.
Sem querer parecer generalista, o trabalho não deveria passar do lúdico. É brincando que o homem aprende e alcança a excelência. Eu tenho o prazer de desempenhar funções que me agradam profundamente, contudo, muitas e muitas vezes me sinto tolhido enquanto artista, mesmo nas atividades artísticas. Mas o problema não são as atividades, são os encontros. Também não são as pessoas, são os encontros entre as pessoas e eu. O que eu escolho de cada relação.
Porque quem determina o sabor do fruto do encontro somos nós. Portanto, repensemos a escolha entre sair melhores ou ficar piores.

Um comentário: