quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Festa de casamento deixa mais de vinte mortos

Festa de casamento deixa mais de vinte mortos
ou 
O himeneu da morte


As duas pessoas posam, lindas, para as fotos. Antigamente havia os proclames, depois se ia ao cartório e à igreja, tinha a recepção para as famílias e os amigos. Hoje em dia se posta foto no Instagram. Tem casal chegando até de bicicleta para a cerimônia. Tudo transcorre lindo e maravilhoso, porque não se posta foto das falhas e dos tropeços, jamais de la vie. Pero (cronista poliglota é chato!), este que vos escreve se interessa pelos que ficaram de fora.

Como? Alguém não foi convidado?

Sim, os amores secretos ou nem tão secretos assim de cada lado dos nubentes. Ou você acha que casamento acaba com o amor do passado? O casamento é um crime. Um crime contra os homens e as mulheres que nutrem paixão, amor, desejo ou esperança pelos noivos. Este autointitulado cronista foi pesquisar e encontrou dois exemplares desta espécie: humanos mortos pelo casamento. Pelo casamento de outrem, evidentemente. Um homem de mais de trinta anos e uma mulher que não revelou a idade. Por motivos óbvios, ambos não desejam ser identificados e serão chamados, respectivamente, de Y. e Vontade.

Vontade, coitada, descobriu na internet que a moça por quem é apaixonada se casaria quando tudo já estava armado. Havia sítio reservado, arranjo de bolo com os bonequinhos representando os noivos, vestido e tudo o mais. Tudo o mais para se casar com um homem. Ela não era lésbica? Eu não sei se ainda se diz lésbica.

Ah, foda-se! Eu tô numa pior. Quero que ela se dane, aquela vadia!

Constrangido, tentei mais algumas perguntas, mas a moça estava de dar dó. Despenteada, a garrafa de cerveja barata nos braços, troncha, sentada na soleira da porta do bar, que agora é botequim, de modo que seria impossível finalizar a entrevista ou arranjar consistência capaz de reter o leitor.

Fui, então, rumo ao interior, visitar a fazenda em busca do rapaz que havia abandonado a carreira de advogado na cidade e se enfiado nos confins de Rio Pardo para sofrer, sozinho, a dor do casamento. Do casamento da ex. Pobre! Era um rapaz muito bem-apessoado, rico, como se via, gentil, de fala bonita. Diz que a cuja nunca lhe deu bola (nem nada, parece!). Foram dois ou três anos tentando sem sucesso. No máximo uma conversa e um abraço.

E de que me vale abraço se o meu coração acelera toda a vez que vejo uma foto dela?!

Que pena do moço! De verdade, uma lástima. A moça conheceu um tal de Adão, se foi para Santa Maria e o Y. sobrou. Aliás, ele nunca foi contado. Chegado o dia do casamento da dita cuja, lá foi o Y. se despedir em estilo nupcial. Quem via achava que gostava das bodas. Chorou de antes da chegada da noiva na igreja até dois ou três dias depois. Está lá agora, figurativamente morto, em estado vegetativo e ainda apaixonado. Sonha sempre com ela, mas há outro no meio e isso lhe inflama.

Devo morrer de ódio.

Não faça isso. Se acalme.

Falsidade minha. Ver casar um amor é a morte mais cruel que pode sentir quem ficou de fora. Para consolá-lo tentei apresentar uma amiga, mas quem disse que serve?

Solteiras e solteiros, atenção! Antes de casar façam uma lista das possíveis mortes que poderão causar com suas núpcias. Avisem as pessoas, se certifiquem de que ficou tudo esclarecido entre vocês e, por fim, assumam o crime praticado.

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