sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Produzo, logo existo!

#croniquei

Fernanda Montenegro e Bruno Mazzeo são de gerações diferentes, mas concordam quando o assunto é trabalho. Bruno já declarou que “quanto mais coisas você faz, mais coisas aparecem”. Dona Fernanda, por sua vez, perguntada por Jô Soares por que não diminuía o ritmo, já que a atriz emenda um trabalho no outro, quando não os desenvolve em paralelo, respondeu: “são tantas coisas boas que me chamam para fazer que não tem como dizer não”.


Quando converso com pessoas aposentadas, fico surpreso com o número de sonhos que foram suplantados em detrimento do casamento e dos filhos. Será que todas essas pessoas queriam casar e ter filhos ou só o fizeram porque era/é o caminho que se esperava que trilhassem?

Acredito que a mudança é característica elementar da vida. Mover e criar são inerentes ao ato de viver, porém, são suplantados sob as obrigações diárias. Tenho trabalhado um pouco com cursos de Criatividade e, ao enfatizar a expressão dos participantes, desabrocham artistas, artesãos e empreendedores. Em geral, são pessoas idosas cujos desejos e sonhos foram abandonados ou sublimados, e que quando libertados ressurgem com uma potência absoluta. E eu os incentivo para realizar os desejos imediatamente. Em grupos ou individualmente, exercitamos diversas dimensões que os empoderam para a concretização dos seus sonhos.

Aqui é preciso esclarecer que não estimulo o senso de utilidade, aquele que prega que só os produtivos estão no sistema e os ociosos estão por fora. Sou adepto do nadismo, do ócio criativo, das férias e da reflexão, longe de mim vir aqui pregar o utilitarismo! O meu discurso trata de encontrar significado na vida, de apaixonar-se. Só emenda um trabalho no outro e se mantém na ativa aos oitenta e seis anos, como Fernanda Montenegro, quem faz aquilo que ama fazer todos os dias, que se diverte com a tarefa, que não poderia substituí-la por outra.

Então faça coisas. Ignore resultados e o amanhã. Expresse o que há de mais forte na sua alma e você encontrará plenitude nisso. É uma forma de meditação, a gente se concentra tanto que acaba por esquecer-se de comer, ir ao banheiro ou dormir.

O escritor Ruy Castro foi diagnosticado com câncer enquanto escrevia a biografia de Carmen Miranda. Inabalável, ia ao hospital receber o tratamento, voltava para casa e escrevia por horas a fio, sem reclamar das dores que sentia. Heloísa Seixas, casada com o autor, narra essa e outras histórias em seu livro O Oitavo Selo, cuja leitura recomendo. Esse caso de obstinação do Ruy ilustra um alinhamento com a missão pessoal, um compromisso com o ato criativo que, por vezes, transcende o nosso entendimento. E assim ocorre com tantos outros artistas e anônimos que conhecemos que não aceitam obstáculos diante daquilo a que se propõem.

Que tal se desafiar? Que tal tirar o sonho da gaveta, abrir as janelas e lustrá-lo até que volte a brilhar?

Pexels

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