#croniquei
Fernanda Montenegro e Bruno Mazzeo são de gerações diferentes, mas concordam quando o assunto é trabalho. Bruno já declarou que “quanto mais coisas você faz, mais coisas aparecem”. Dona Fernanda, por sua vez, perguntada por Jô Soares por que não diminuía o ritmo, já que a atriz emenda um trabalho no outro, quando não os desenvolve em paralelo, respondeu: “são tantas coisas boas que me chamam para fazer que não tem como dizer não”.
Quando converso com pessoas aposentadas, fico surpreso com o número de sonhos que foram suplantados em detrimento do casamento e dos filhos. Será que todas essas pessoas queriam casar e ter filhos ou só o fizeram porque era/é o caminho que se esperava que trilhassem?
Acredito que a mudança é característica elementar da vida. Mover e criar são inerentes ao ato de viver, porém, são suplantados sob as obrigações diárias. Tenho trabalhado um pouco com cursos de Criatividade e, ao enfatizar a expressão dos participantes, desabrocham artistas, artesãos e empreendedores. Em geral, são pessoas idosas cujos desejos e sonhos foram abandonados ou sublimados, e que quando libertados ressurgem com uma potência absoluta. E eu os incentivo para realizar os desejos imediatamente. Em grupos ou individualmente, exercitamos diversas dimensões que os empoderam para a concretização dos seus sonhos.
Então faça coisas. Ignore resultados e o amanhã. Expresse o que há de mais forte na sua alma e você encontrará plenitude nisso. É uma forma de meditação, a gente se concentra tanto que acaba por esquecer-se de comer, ir ao banheiro ou dormir.
O escritor Ruy Castro foi diagnosticado com câncer enquanto escrevia a biografia de Carmen Miranda. Inabalável, ia ao hospital receber o tratamento, voltava para casa e escrevia por horas a fio, sem reclamar das dores que sentia. Heloísa Seixas, casada com o autor, narra essa e outras histórias em seu livro O Oitavo Selo, cuja leitura recomendo. Esse caso de obstinação do Ruy ilustra um alinhamento com a missão pessoal, um compromisso com o ato criativo que, por vezes, transcende o nosso entendimento. E assim ocorre com tantos outros artistas e anônimos que conhecemos que não aceitam obstáculos diante daquilo a que se propõem.
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