Mãe Preta
África
Fátima Porto
Teu olhar
perdido no horizonte
de onde viste
partir filhos teus...
Gritaste...
Choraste
lágrimas de sangue
numa revolta incontida
A tua cubata*
ficou vazia
e na sanzala**
dançam ritmos
de dor...
As rugas do teu rosto
cravam
a tristeza
o teu olhar
é vazio...
Mãe preta África
Perdeste a ideia
de quantos filhos
e há quantos anos
te levaram,
Mas põe os panos
mais bonitos
as missangas*** mais coloridas
porque um dia...
Eles vão voltar!
Livro Ecos d’alma, Edium Editores, Portugal, 2012.
* do quimbundo kubata, casa. Habitação rústica tipicamente africana, geralmente de telhado cônico coberto de folhas ou palha.
** senzala
*** grafia em Portugal
Obrigada Dan, pela transcrição do poema "Mãe Preta África"....
ResponderExcluirTentei descrever os sentimentos calados, chorados, das mulheres africanas durante a guerra civil angolana, em que maridos, filhos, lutaram e alguns morreram e outros tantos partiram para outros países, sem que elas soubessem, mas nunca perdendo a esperança que um dia voltassem.
Fátima, obrigado por compartilhar isso conosco. Um abraço.
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