Vivemos amontoados em caixas, uns sobre os outros, e chamamos
a isso de lar. É um fato o amontoamento de humanos e animais nas grandes
cidades e o esvaziamento das áreas rurais. Viemos, todos, em busca do sonho
dourado. Os animais, coitados, estão servindo de companhia para a nossa solidão
enquanto estamos muito ocupados em funções que julgamos de suma importância!
Outro fato é que, não preparados para o convívio, não olhamos
para a cara do vizinho de porta ou de janela ou nos engalfinhamos quase
fisicamente por espaço, por direitos e, por fim, por barulho ou silêncio. É
como se reivindicássemos o direito de usar o espaço do ar para propagar nossos
sons por aí. Porém, esquecemos que o espaço aéreo também reduziu, a menos de
dois metros começa o espaço aéreo do vizinho e os meus sons invadem o espaço
dele e vice-versa.
Está feita a guerra e não há quem encontre solução. Síndicos,
advogados, juízes, religiosos e até Jaciara Macumbeira pode ser chamada, os
caminhos estão cruzados e ninguém tem para onde ir.
Desatar esse nó é para santo, e dos bons! Os egos inflados, o
sofrimento, o stress, a depressão, a ansiedade e tantos outros males modernos
nos impedem de negociar francamente, de dizer ao vizinho o que nos incomoda e
ouvir dele a nossa parte de responsabilidade para, enfim, juntos, optarmos por
um caminho que desatravanque a situação.
Fomos educados para fugir do que nos perturba e jamais
manifestar a verdade sobre nada. E isso vem nos custando mais caro a cada dia e
poderá nos custar a vida. Quem nunca sofreu um ataque de stress daqueles que
fazem o corpo inteiro tremer, os olhos soltarem faísca e o desejo de morte
aflorar?
As emoções e os sentimentos não podem ser sublimados e
negados, mas vivenciados plenamente e, nesse caso, compartilhados franca e
pacificamente com os atores envolvidos. Eu sei que quando o vizinho está com o
facão na mão ninguém vai querer testar a capacidade de amar dele, mas quem sabe
possamos nos olhar mais e conversar e dizer, desarmados, o que pensamos um do
outro.
Esse movimento de se olhar e falar pode mudar tudo, pode
abrir caminhos para melhorar o condomínio inteiro, para melhorar o convívio
entre os vizinhos da rua, entre os moradores do bairro. Isso pode ser o começo
para mudar o mundo.
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