domingo, 9 de março de 2014

A guerra silenciosa que travamos pelas janelas de nossas caixas

Vivemos amontoados em caixas, uns sobre os outros, e chamamos a isso de lar. É um fato o amontoamento de humanos e animais nas grandes cidades e o esvaziamento das áreas rurais. Viemos, todos, em busca do sonho dourado. Os animais, coitados, estão servindo de companhia para a nossa solidão enquanto estamos muito ocupados em funções que julgamos de suma importância!

Outro fato é que, não preparados para o convívio, não olhamos para a cara do vizinho de porta ou de janela ou nos engalfinhamos quase fisicamente por espaço, por direitos e, por fim, por barulho ou silêncio. É como se reivindicássemos o direito de usar o espaço do ar para propagar nossos sons por aí. Porém, esquecemos que o espaço aéreo também reduziu, a menos de dois metros começa o espaço aéreo do vizinho e os meus sons invadem o espaço dele e vice-versa.

Está feita a guerra e não há quem encontre solução. Síndicos, advogados, juízes, religiosos e até Jaciara Macumbeira pode ser chamada, os caminhos estão cruzados e ninguém tem para onde ir.

Desatar esse nó é para santo, e dos bons! Os egos inflados, o sofrimento, o stress, a depressão, a ansiedade e tantos outros males modernos nos impedem de negociar francamente, de dizer ao vizinho o que nos incomoda e ouvir dele a nossa parte de responsabilidade para, enfim, juntos, optarmos por um caminho que desatravanque a situação.

Fomos educados para fugir do que nos perturba e jamais manifestar a verdade sobre nada. E isso vem nos custando mais caro a cada dia e poderá nos custar a vida. Quem nunca sofreu um ataque de stress daqueles que fazem o corpo inteiro tremer, os olhos soltarem faísca e o desejo de morte aflorar?

As emoções e os sentimentos não podem ser sublimados e negados, mas vivenciados plenamente e, nesse caso, compartilhados franca e pacificamente com os atores envolvidos. Eu sei que quando o vizinho está com o facão na mão ninguém vai querer testar a capacidade de amar dele, mas quem sabe possamos nos olhar mais e conversar e dizer, desarmados, o que pensamos um do outro.


Esse movimento de se olhar e falar pode mudar tudo, pode abrir caminhos para melhorar o condomínio inteiro, para melhorar o convívio entre os vizinhos da rua, entre os moradores do bairro. Isso pode ser o começo para mudar o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário