Sara plantava palavras em vasinhos no quintal de casa. Eram
soberbas as plantas, cuidadas com pouco Sol, pouca água e muita atenção.
Ninguém podia chegar perto delas, só com o consentimento daquela que era mais
do que dona, se sentia mãe daquelas palavras.
Quando a guerra foi declarada Sara ficou atônita. Não por
ela, mas pelas palavras. O que fazer com elas? Pensou em partir enquanto ainda
desse tempo, mas não havia como levar todos os vasos, no máximo três ou quatro.
Então Sara tomou a decisão mais difícil de sua vida. Ela
comeu as palavras. Comeu uma por uma, empurradas com um pouco de água. Eram as e esses
que sobravam no canto da boca, mas era preciso, e Sara chorava e comia mais
palavras.
Partiu no mesmo dia levando apenas a roupa do corpo. E as
palavras. Essas, todas, comidas e a ponto de serem digeridas. Sara só pensava
em chegar a algum lugar seguro do outro lado e regurgitar as palavras, porque
só assim podia ser que sobrevivessem.
Conseguiu atravessar a fronteira e chegar ao país vizinho. Foi
salva e abrigada por um casal de camponeses. Sara agradecia. Agradecia e
vomitava as palavras, mas o homem e a mulher não entendiam nada, eram
analfabetos.
As incoerências da vida. Ou os encontros necessários.
ResponderExcluirObrigado, poeta.
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