domingo, 3 de junho de 2012

Saudade é um pouco como fome


“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida”. (Clarice Lispector)

“É estranho sentir saudade sem ter tido. Do abraço sonhado, de um sono nunca dormido e nunca acordado, de um vento que nunca entrou a janela, de um beijo que nunca molhou.”

É um tempo em que os corpos vivem separados e o corpo também deixou a alma lá nos anos, o que torna o humano menos humano e, por outro lado, cobra uma humanidade que nos carrega e nos perde mais. A presença não foi nem será substituída, está apenas ludibriada por uma série de coisas que criamos e, afoita, aguarda pela hora de voltar e unir os corpos, os olhos, as peles, os suores, as bocas; aguarda pela troca de dois em um, pela cumplicidade daqueles olhos que se falam.

Essa ausência da presença é a causa da fome que sentimos na boca, no peito, no sexo, nos olhos, nos ouvidos, nas mãos. O ser humano sempre desejou, mas nunca desejou tanto outro ser humano, porque vivia em bando, depois em comunidade, depois em cidades, até que o muito se tornou nada.

É insustentável viver sozinho e o contrário não é uma escolha, a vida pode ser e ter tudo se nos servirmos dessa parafernália toda que criamos para nos ausentar menos, de nós e dos outros.

“O Sol que brilhou hoje no meu olho, deve ter tocado pelo menos o casaco dela.”

3 comentários:

  1. Uma coisa é certa, nossa vida seria muito melhor, se acaso não sentíssemos saudades.

    Beijo meu, se cuida poeta.

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  2. Saudade é do que volta, o resto é nostalgia.

    Esse vazio é aquele criado por nós quando descobertos românticos e ficamos a procurar o que cabe.

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