quinta-feira, 14 de outubro de 2010

É hora


É hora de arrumar as malas, hora de me olhar no espelho e ver o que ficou e o que perdi e me recompor.
É hora de endireitar o corpo, escrever mais um capítulo do livro inacabado e tomar um café com o moço da esquina. É só um café, não quero olhar nada mais profundamente hoje, quero só feijão e arroz.

Amanhã sim, amanhã a vida volta a andar com as mesmas pernas grossas, torneadas, lisas e levemente bronzeadas de mulher na casa dos trinta, que faz sexo mais de uma vez por semana e é bem sucedida no trabalho. Pensando bem, a vida é uma mulher, complexa, bela, curiosa, intrigante.

As malas o porteiro leva e joga no banco de trás do táxi. Eu, eu mesmo me levo e me jogo no banco da frente do táxi, olho para o motorista e digo aeroporto, com cara de poucos amigos, tentando evitar que ele puxe conversa. Bobagem, ele já ia mesmo perguntar se eu estava me mudando, se tinha me separado e coisas assim, que verdadeiramente não lhe dizem respeito, mas ele pergunta assim mesmo, como para passar o tempo.

É hora de ir embora. Minhas malas carregam mais de mim do que roupas, levam minhas esperanças bem guardadas, meus novos sonhos, ou talvez os velhos, e o peso que não carrego nas costas, não quero ser um velho cheio de experiências, quero ser a criança livre e brincalhona que se diverte no meio do campo.

É hora.
O mundo não espera.

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